Dizer que o campo da comunicação está sendo profundamente moldado pelas transformações tecnológicas pode parecer um lugar-comum, mas essa constatação reflete uma realidade irrefutável e multifacetada. As inovações tecnológicas, como a inteligência artificial e a popularização das plataformas digitais, não apenas alteram os canais e formatos da comunicação, mas também provocam uma reconfiguração dos próprios paradigmas de compreensão e interação comunicativa entre as pessoas.
Nesse contexto de mudanças estruturais, observa-se um interesse crescente em antecipar as tendências que moldarão o futuro dos comunicadores. Com a chegada de dezembro, é comum vermos especialistas afirmando que o “próximo ano será definido como o ano dos comunicadores e profissionais do marketing”, mas será que isso é real ou apenas mais uma estratégia de captura de cliques?
O relatório recente da Onclusive, “PR, Comms & Marketing: The 2026 Outlook”, oferece uma análise fundamentada, destacando os motivos pelos quais este pode realmente ser um marco para esses profissionais, especialmente devido às crescentes pressões econômicas, que tensionam orçamentos e elevam as expectativas por resultados imediatos.
Uma das maiores preocupações dos profissionais de comunicação está na gestão da receita, e muitos preveem dificuldades para justificar investimentos em um cenário de possível recessão. Cerca de 52% das agências e 51% dos times internos reconhecem que conectar PR à receita é o maior desafio, evidenciando a dificuldade persistente de transformar ações em impacto real de negócio. Já no marketing, mais da metade das agências espera enfrentar desafios para se adaptar às mudanças de algoritmo.
Sobre o tão falado domínio da inteligência artificial, dois quintos dos entrevistados esperam que seus papéis permaneçam praticamente inalterados pela IA, afirmando que ela os complementará, e não os transformará.
Em suma, a pesquisa aponta que quatro “megaforças” moldarão a comunicação em 2026:
- ROI e impacto de negócio: medir resultados além de métricas de vaidade (cliques, impressões, AVE) e conectar reputação à receita, leads, fidelização e risco reputacional.
- Brand building como prioridade: construção de marca volta ao centro, com pressão para traduzir reputação em indicadores comerciais claros. No estudo, 58% das agências e 50% dos times internos apontaram que essa será a prioridade em 2026.
- Redução das redações e competição por atenção: essa é uma tendência que, infelizmente, vivenciamos desde antes da pandemia da Covid-19. Menos jornalistas, mais pitches (inclusive gerados por IA), exigindo relações mais profundas, pautas baseadas em dados e narrativas realmente relevantes. O estudo revela que o número de jornalistas atuando está em queda; 52% das agências e 42% dos times internos esperam menos profissionais cobrindo a indústria em 2026.
- IA em papel de suporte, não substituição: IA generativa e automação ajudam em análise, insights, segmentação e produtividade, enquanto estratégia, ética e criatividade permanecem humanas.
Na prática, o que isso significa?
Os processos de PR e assessoria de imprensa passam a ser vistos como parte integrante da política estratégica do negócio, e não apenas como métodos para garantir visibilidade. Esse novo entendimento exige um investimento crescente em gestão de reputação, com políticas consolidadas de gestão de crises e processos comunicacionais bem definidos, além da incorporação da comunicação no planejamento estratégico das empresas.
Dentro desse cenário, a adoção de relatórios de impacto vinculados a KPIs de vendas e de outras áreas torna-se fundamental para atender à crescente demanda por uma comunicação integrada e alinhada com os demais setores da organização, uma tendência já impulsionada pela popularização da comunicação 360.
Em complemento, o antigo ditado “pessoas compram de pessoas” ganha uma relevância ainda maior em um ambiente onde as relações tendem a ser mais líquidas e superficiais. Para conquistar consumidores cada vez mais exigentes, é imprescindível que eles se identifiquem com a marca e seus produtos, e que o discurso divulgado seja autêntico e alinhado com a realidade, reforçando a importância da comunicação estratégica voltada para a construção de vínculos verdadeiros.
